quinta-feira, 30 de julho de 2009

"Não é papo de psicólogo, não"

Ontem fui ao aniversário de uma amiga, a C., na minha terra. Conheci uma colega de curso dela, que é trabalhadora estudante e tem 31 anos. Passámos a tarde a conversar e acabámos por contar metade das nossas vidas uma à outra. Acho que o facto de as pessoas saberem que eu estudo Psicologia as deixa mais à vontade. Tenho sentido isso cada vez mais com o passar dos anos, dois dedos de conversa e as pessoas contam pequenas coisas, pequenos (grandes) problemas que estão a passar, dificuldades...
Conversa puxa conversa, a F. contou-me que é viúva há dois anos. Viúva aos 31 anos! Namorou quatro anos, casou, e cerca de um ano depois do casamento foi diagnosticado cancro ao marido. Dois anos e meio de casamento, com um ano e meio de luta, que acabou da pior maneira. Já com lágrimas nos olhos, contou-me que os sogros lhe dizem que apesar de ter estado pouco tempo casada com o filho, tinha entrado na vida dele por algum motivo. F. disse que passou a viver para a doença do marido, que nem dormia para conversar com ele durante a noite, porque ele tinha medo da noite.
Uma pessoa ouve estas histórias. Todos os dias morre o marido de alguém, o filho de alguém, o pai de alguém. Mas tem sempre outro impacto quando estamos a falar directamente com alguém que vive um luto recente, especialmente quando é um luto contra a ordem natural das coisas, como foi este caso. Um casal com toda a vida pela frente...
Falei com o meu pai sobre isso e disse que não sabia o que era melhor, se uma pessoa morrer de repente, se passarmos algum tempo doentes até morrer. O meu pai disse que a melhor morte é um AVC repentino e fatal.
Para a vítima, acredito que seja. Mas para os que ficam, não sei... Por um lado as doenças preparam-nos para a morte do nosso ente querido, mas por outro, são tempos de muito sofrimento e, por vezes, a imagem que guardamos da pessoa já não é a original, mas antes a da pessoa que está ali, doente, frágil, muitas vezes deformada.
Quando as coisas acontecem de repente é um choque maior, mais difícil de aceitar. Mas, no final de tudo nunca se está preparado! E nós queremos sempre mais tempo, mais tempo, mesmo que isso implique o sofrimento continuado da pessoa que amamos.
E pronto, chega de conversas deprés.
Moral da história: não há moral da história.
P.S. Eu namoro há pouco mais de dois anos e já não conseguia viver sem o meu babe...

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