quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Avô Fausto

Se estivesse vivo, hoje o meu avô Fausto faria 91 anos. Foi há quatro anos, e foi a primeira morte de alguém próximo que eu vivi.
Lembro-me de ir para o hospital com o meu pai atrás da ambulância e de ficarmos nas urgências à espera de notícias. Lembro-me de ir falar com o meu avô, de lhe dar um beijinho. Deixámo-lo consciente e relativamente bem. No dia seguinte, já não falava, e assistimos durante 15 dias ao seu desaparecimento. Primeiro deixou de falar, apertava-nos a mão, depois deixou de nos olhar e, por fim, era um vegetal.
Lembro-me de ir com o meu pai e os meus tios falar com um médico que nos disse que o ia mandar para casa. E aí foi a confirmação: não havia nada a fazer, a não ser mandá-lo morrer com a família.
Não passou uma noite e recebemos "o" telefonema. Lembro-me de a minha mãe me acordar e de eu ter um feeling inexplicável e correr para o meu pai. Lembro-me de irmos para Alquerubim ter com a minha avó e lembro-me de ir no carro. Havia festas de Verão na terra, pipocas, algodão doce e gente bem disposta.
E lembro-me de achar tão injusto que houvesse pessoas felizes e a divertir-se, quando o meu avô tinha morrido. Tudo à nossa volta continuava, mas o mundo devia parar.
O meu avô morreu aos 87 anos, fruto de um AVC que teve um dia depois de renovar a carta de condução. Apanhou batatas, plantou feijões e cuidou do seu pomar até ao fim. Nunca o consegui convencer de que não queria ser médica (esta obsessão comum aos meus quatro avós, só por ser boa aluna e meiguinha), mas arranjei um homem às direitas (e que não usa calças rasgadas e sapatilhas sujas - só falta mesmo a parte da brilhantina no cabelo).
Julgamos que estamos preparados, que as pessoas envelhecem e é o rumo natural da vida, mas a verdade é que a morte de quem amamos nos apanha sempre desprevenidos.

2 comentários:

  1. O meu avô faleceu na semana passada e, apesar de estar já com alzheimer há uns anos, já nem nos conhecer e de ter ido para um lar porque requeria demasiados cuidados para estar em casa, nem assim 'aliviou' a perda e o choque acabou por ser grande à mesma. Fiz-me de forte mas por dentro não podemos enganar ninguém... como ele próprio dizia 'É a vida...', prega-nos partidas que doem demasiado e que nos fazem pensar no quanto desperdiçamos ao pensarmos demasiado nela, em vez de a vivermos como deve ser.
    :) (Já cá não vinha há muito tempo...my bad!)
    beijinho da conterrânea

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  2. Quando lidamos pela primeira vez com o falecimento de alguém que nos é próximo, parece que "acordamos" e descobrimos um novo sentido do que é estar vivo e do que é morrer. É muitíssimo doloroso e é algo que nos vai acompanhar sempre.
    Felizmente, a vida proporciona-nos momentos maravilhosos com essas pessoas, que nos fazem sorrir e ver que valeu a pena passar por cá.
    Beijinhoooo *

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